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A INVEJA

Poucos, como Aristóteles, analisaram tão bem a inveja. No capítulo X da sua obra ?A arte retórica?, identifica quais os motivos desse sentimento. Diz Aristóteles que:

 

?Sentimos inveja dos que nos são iguais por nascença, parentesco, idade, disposição, reputação, bens em geral (...)?. Ninguém tem inveja dos que viveram a milhares de anos, dos que não hão de nascer ou dos que já morreram (...). Nem daqueles que, aos nossos olhos ou aos olhos dos outros, nos são muito inferiores ou muito superiores (...).

Invejamos aqueles que ambicionam os mesmos bens que nós (...). Invejamos os que facilmente triunfam, quando nós temos dificuldade em triunfar ou fracassamos (...). Invejamos os nossos pares e os nossos parentes que conquistaram êxitos e riquezas porque, se não obtermos os bens que eles têm, a culpa é nossa (...). Também invejamos aqueles que possuem ou possuíram as vantagens que deviam caber-nos ou que um dia obtivemos; daí a inveja que os velhos sentem dos novos. Sentem inveja àqueles que tiveram que fazer copiosos gastos para conseguirem uma vantagem que outros conseguiram por pouco custo. ?Todos aqueles que conseguiram um objetivo são invejados por aqueles que não o alcançaram ou falharam.?

 

 

*Aristóteles, Arte retórica e arte poética. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho, Editora Tecnoprint, p. 123 e 124 (trecho adaptado)

 

 

A inveja? Sim, a inveja. Inveja que o filho nutre pelo pai e a mulher pelo marido.

Para cada pessoa famosa que existe correspondem no mínimo dois familiares seus que recorrem a psicanalistas ao outros terapeutas com a finalidade de resolverem-se.

Começa com a terrível canga que se amarra a todo corpo de familiar de uma pessoa famosa: ela de plano perde a sua personalidade, não é mais chamada pelo nome, é o filho do Fulano famoso, a mulher do Fulano famoso, o marido da Fulana famosa e assim por diante.

Isso freqüentemente provoca no âmago dos familiares das pessoas famosas ou das pessoas destacadas no meio social, o que é afinal a mesma coisa, um estrondoso escarcéu, seguido de um terremoto psíquico.

Pela singela razão de que se estabelece em todas as famílias um pacto tácito de que todas as alegrias e sofrimentos serão repartidos entre seus membros.

Por sinal, não é outra a designação da sentença que o padre pronuncia no altar, diante dos noivos que estão a consorciar-se, de que terão de partilhar por toda a vida os infortúnios e a felicidade.

Então, quando um membro de uma família está sofrendo atribulações de qualquer sorte, os outros todos acorrem para socorrê-lo. Porque foi quebrada a igualitariedade, um está sofrendo e os outros, não.

Da mesma forma, quando algum membro da família se destaca, alcança a admiração da sociedade, atinge o que teoricamente é a realização e, portanto, a felicidade, desfaz-se a igualdade do clã, um é mais feliz do que os outros o que por vezes se torna insuportável para os atingidos desfavoravelmente pelo desequilíbrio.

E não raro, ao contrário dos membros da família que correm para acudir aquele que entre eles passa por dificuldades, no caso do membro que esbanja felicidade, este passa a atrair, por um desses desvios mórbidos constantes da natureza humana, a inveja dos outros parentes.

Da inveja para a agressão é apenas um passo. Da agressão para a tentativa de destruição é o seguinte passo.

Porque as famílias se instalam em torno das cidadelas de seus lares com a esperança de que todos dali em diante, dentro daquele fortim, caminhem lado a lado. E quando alguém entre eles dá um passo à frente dos outros, de alguma forma está transgredindo o pacto de uniformidade.

Basta que este vírus de rivalidade se instale no sangue de alguém pertencente a uma família e vá irrigar um cérebro doentio para que todos se mostrem assombrados com a capacidade de um filho denunciar um pai, uma mulher acusar um marido, um irmão esquartejar o seu outro irmão.

Tal é a sorte muitas vezes da família, essa estupenda e sublime criação do homem, que também pode lhe servir de fonte de todas as aflições ou até de sepultura.